Três rochas com gravuras rupestres resistem ao tempo na parte mais elevada do morro Vista Alta numa faixa de terra entre o Rio Iguaçu e seu afluente Andrada, no sudoeste do Paraná. Por milênios, esses pedaços palpáveis da história ficaram ocultos pela mata que recobre o entorno.
Um minucioso trabalho de pesquisa que se estende desde 2008 revelou milhares de relíquias e outros 53 sítios arqueológicos na área de influência direta e indireta da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu, que abrange cinco municípios. As descobertas agora fazem parte do Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A prospecção, o resgate e a pesquisa de artefatos e sítios arqueológicos são realizados por especialistas contratados pelo Consórcio Empreendedor Baixo Iguaçu (CEBI). O Programa de Prospecção e Resgate Arqueológico, que já recebeu investimentos do consórcio, acompanhou todas as etapas do licenciamento ambiental – desde a licença prévia, de instalação à de operação – da hidrelétrica.
As riquezas antes resguardadas pela floresta e por poucos moradores do Paraná começam a escrever uma história até então desconhecida do Brasil anterior à colonização europeia.
Oito mil anos de história
O Estado do Paraná é um território rico em relíquias arqueológicas. Pesquisas anteriores indicam que os primeiros habitantes foram caçadores-coletores cuja ocupação remonta a 11 mil anos.
Sítios arqueológicos na área da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu foram catalogados e demarcados. Os resquícios de sedimentos e material lítico, ou seja, as rochas usadas como instrumentos pelos homens pré-coloniais, foram encaminhados para investigação em laboratórios. Os itens incluem restos de cerâmica e pontas de rochas lascadas que poderiam servir como projéteis, lanças e facas, entre outros.
Os arqueólogos também encaminharam amostras para a datação de carbono-14, método usado para definir a idade de fósseis vegetais e animais, em um laboratório dos Estados Unidos. Pelo resultado, os itens coletados remontam a um espectro entre 380 anos e 7.920 anos. Os pesquisadores também tentam identificar as populações que passaram pela região. Registros arqueológicos sugerem a presença das etnias Guaranis e Jê Meridionais.
No caso do sítio de Vista Alta, há mais mistérios do que conclusões. Os arqueólogos ainda não conseguem precisar o período ou a população que o habitou. “Do ponto de vista científico, essas respostas não existem”, disse Valdir Luiz Schwengber, coordenador da pesquisa arqueológica e sócio-diretor do Espaço Arqueologia, que presta serviço para o CEBI. Por enquanto, há apenas indícios de que aquela ocupação tenha cerca de oito mil anos.
Respiros de tempo
O sítio arqueológico de Vista Alta fica a dez quilômetros do centro de Capitão Leônidas Marques, um município de pouco menos de 15 mil habitantes. O trajeto é feito pela rodovia PR 484 até a ponte do Rio Andrada – estrutura que recebeu investimentos do CEBI.
Todo o processo vem sendo acompanhado de perto pelo engenheiro florestal Bruno Mattiello, que coordena o programa arqueológico junto ao consórcio. “Para mim, é muito interessante participar de um projeto que ajuda a descobrir nossas raízes, que vai identificar o modo de vida das populações da região”, comentou.
Após a conclusão dos estudos, os itens coletados serão encaminhados para o Museu Regional do Iguaçu, mantido pela Companhia Paranaense de Energia (Copel) no município de Reserva do Iguaçu, também no sudoeste do Estado.
O sítio de Vista Alta será um dos poucos do Brasil abertos à visitação. A ideia é garantir uma infraestrutura de acesso até o topo do morro e, ao lado das inscrições em pedra, instalar painéis com reproduções em 3D das gravuras rupestres e informações sobre as populações que habitaram a região. “O sítio vai ser certamente um atrativo nacional”, disse Mattiello.
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
Este programa se alinha ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 (Educação de Qualidade) e 11 (Comunidades e Cidades Sustentáveis).