Uma construção ocre, semelhante a um muro largo, faz papel de coadjuvante no cenário do esplendor da engenharia da Usina Baixo Iguaçu. Metade menos esfuziante de uma hidrelétrica, a barragem esconde sofisticação. Exige conhecimento multidisciplinar, precisão na construção, monitoramento permanente e aposta na prevenção. Assim, funcionará corretamente – e em silêncio. Mas não se engane: a barragem tem vida.
O Brasil acordou para o cuidado que se precisa ter com tais estruturas, a partir de um par de ocorrências, em Minas Gerais. Eram contenções de rejeitos, situações muito diferentes em relação a hidrelétricas. “Sequer devia ter o mesmo nome”, pondera o engenheiro especialista em segurança de barragens Luiz Gustavo Westin, encarregado da barragem da UHE Baixo Iguaçu.
Ele explica: “As barragens da mineração são dinâmicas, para segurar rejeitos, e precisam ter suas estruturas alteradas constantemente. A estrutura das hidrelétricas é estática, ainda que exija verificação e monitoramento permanentes”. Além disso, a construção na UHE Baixo Iguaçu contou com profissionais experientes e especialistas em projeto e obras hidráulicas, entre operários, projetistas, geólogos e engenheiros.
Funcionamento em sintonia com as comportas
A barragem funciona em conjunto com a operação das 16 comportas do vertedouro. Cada uma delas tem abertura máxima de 20 metros, área maior do que das comportas da Hidrelétrica de Itaipu, uma das três maiores do mundo, no vizinho Rio Paraná, com seu reservatório de 1.350 km² – o da caçula do Rio Iguaçu tem 31,6 km². A abertura das comportas tem, assim, influência direta na segurança da barragem. “Na verdade, é o aspecto mais importante”, enfatiza o engenheiro.
A construção da barragem da UHE Baixo Iguaçu é do tipo enrocamento, que conjuga , rocha e solo compactado. A escolha do modelo considera inúmeros fatores, inclusive as condições locais de disponibilidade de recursos naturais.
Os estudos também determinaram que a barragem seria reta, com 410 metros de comprimento e altura máxima de 30 metros. “Está tudo dimensionado em conformidade com os critérios técnicos estabelecidos e amplamente aceitos e empregados pela engenharia hidráulica”, assegura o engenheiro.
O setor de energia no Brasil funciona sob parâmetros rigorosos, estabelecidos pela Eletrobrás. O plano de segurança da barragem mantido pela Usina é enviado ao ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
Contato permanente com autoridades locais
Mas e se ocorrer uma cheia sem precedentes? A maior registrada por ali, na madrugada de 8 para 9 de junho de 2014, chegou a 32 mil m³/seg. Com a barragem pronta e as comportas abertas, daria em basicamente… nada. “O sistema está dimensionado para suportar até 53.585 m³/seg”, avisa Ricardo Ivo Fortes, engenheiro de planejamento do Consórcio Empreendedor Baixo Iguaçu. Traduzindo: a barragem tem capacidade de segurar uma cheia na qual a probabilidade de acontecer é uma vez a cada dez mil anos.. Mesmo assim, é totalmente instrumentada e monitorada constantemente por todos os colaboradores da Usina, contando, inclusive, com equipe especializada e dedicada à segurança da barragem (um funcionário no local e três na sede da Neoenergia).
A prevenção inclui a interação com as autoridades locais, para atendimento à população vizinha da hidrelétrica. Mas as características da região e da usina também colaboram para que mesmo o cenário mais extremo e improvável tenha consequências brandas. “A ocupação humana a jusante da barragem é pequena”, tranquiliza o engenheiro. “E as pessoas seriam avisadas antecipadamente para poder desocupar as residências em segurança em caso de ocorrência que possa comprometer a barragem”.
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
A segurança da barragem da Hidrelétrica de Baixo Iguaçu está adequada aos itens 11 (“Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis”) e 15 (“Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade”) dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).